terça-feira, 19 de julho de 2011

Sobre memórias e raízes...

Hoje, mais que uma simples receita, o espaço é de reencontros.          

Em uma destas coincidências que o destino nos coloca pela frente, aquilo que era para ser um encontro formal de negócios se transformou em uma deliciosa descoberta! Em um reencontro de antigas histórias de uma mesma origem.

Famílias árabes chegadas ao Brasil num século passado. Histórias de pessoas das quais herdamos o sangue – sim, sangue quente e em alguns momentos próximo a ebulição, mas absolutamente puro e límpido em sua essência.

Horas de conversas. Casos divertidos, outros nem tanto, mas principalmente aquilo que une a todos nós: O amor e o orgulho das histórias de nossos antepassados e logicamente a boa e velha cozinha árabe.
Saímos de lá, eu e Paulo, ainda meio enlevados pela conversa leve... Meio que flutuávamos entre passado e presente, assim como se estivéssemos em uma dimensão paralela entre momentos tão distantes.

E ao chegarmos em casa, a vontade de prolongar esta sensação tão gostosa foi mais forte que nós!

O resultado?  Um delicioso “Quibe de Bandeja” feito à melhor maneira árabe!

Dr. Roberto Aniche e Luiza Aniche, a escolha de cada ingrediente deste prato assim como a sua execução foi feita com todo o cuidado e carinho, como se nele estivéssemos colocando todo o nosso amor e respeito àqueles de quem falamos por horas.

Este Quibe de Bandeja é um agradecimento a vocês dois e uma homenagem a todos os “árabes malucos” que povoam ou povoaram as nossas vidas!

Obrigada e Bil-hanaa wach-chifaa !



QUIBE DE BANDEJA

Ingredientes

1 kg e 200g de patinho limpo, sem nervo, passado 2 vezes na máquina de moer.
-1/2 kg de trigo fino
-3 cebolas
-pimenta síria
-sal
-snoba (pinhão típico da culinária árabe)
-1 punhado generoso de hortelã fresca
- Suco de meio limão
-azeite
- Manteiga
 
Massa

Cubra o trigo com água e deixe de molho por no mínimo 30 minutos. Após este tempo, escorra toda água e aperte com as mãos para retirar o excesso.
Separe 1 quilo da carne, adicione o trigo escorrido, 1 cebola bem batidinha, sal e pimenta síria a gosto (eu uso uma pitada de pimenta preta moída na hora) e as folhas de hortelã bem picadinhas. Misture muito bem, com as mãos, até ficar uma massa bem homogênea.  Divida a massa em duas partes iguais. Reserve.

Recheio

Fatie as 2 cebolas e leve para refogar com um pouco de azeite. Junte o snoba, os 200 gramas da carne moída, o suco de limão, o sal e a pimenta síria. Deixe refogar até dourar.

Preparo

Em uma assadeira untada com um pouco de azeite, arrume a metade da massa. Espalhe o recheio e cubra com o restante da massa, apertando para que fique bem nivelado. Com uma faca desenhe um quadriculado. Arrume pedaços  de manteiga sobre a massa e leve ao forno pré aquecido a 180 C até que o quibe ficar dourado.   Enfeite com um raminho de hortelã .

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Programação Gratuita em Sampa

Rótulos de Cachaça e Cartazes de Bonde

Aproveitando este momento em que ser “designer gráfico” é o máximo, que tal fazer um passeio pelo universo de tais criaturas ??
O Instituto Tomie Ohtake apresenta - dentro do projeto Anônimos e Artistas - duas mostras muito interessantes:

Veja Ilustre Passageiro: o Atelier Mirga e os Cartazes de Bonde, onde podemos nos divertir com mais de 300 obras do Atelier Mirga, a Companhia de Annuncios em Bonds, famoso por criar entre os anos de 1928 e 1970 mais de 8 mil anúncios para bondes e ônibus aqui em Sampa.  Um detalhe que vale ser lembrado é que nesta época não existiam escolas de desenho nestas paragens!  Tudo era feito por amor a arte!!
Preste muita atenção, pois a grafia é bastante pitoresca e os desenhos de uma inocência deliciosa.



Caprichosamente Engarrafada: Rótulos de Cachaça.  Aqui, você poderá viajar nos mais de 400 rótulos de cachaças, além de pedras litográficas, que fazem parte do acervo do designer gráfico Egeu Laus e da Fundação Joaquim Nabuco, que confesso não sabia, é o maior centro de estudos sociais do nordeste brasileiro.
Aqui, vale tomar atenção aos nomes e desenhos, alguns feitos pelos próprios donos dos alambiques!  Uma preciosidade!

  


Veja Ilustre Passageiro: O Atelier Mirga e os Cartazes de Bonde
Caprichosamente Engarrafada: rótulos de cachaça
Instituto Tomie Ohtake
Avenida Brigadeiro Faria Lima, 201
(Entrada pela Rua Coropés), Pinheiros, tel. 2245-1900
De terça a domingo, das 11h às 20h
Entrada Gratuita
Até 10 de abril.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Saboreando Espíritos


Espírito, segundo Aurélio Buarque de Hollanda, é a denominação dada ao líquido obtido na destilação, o álcool, devido a sua volatilidade. No universo etílico é sinônimo de bebida destilada, termo usado correntemente no exterior, e antigamente nos muitos interiores daqui.
Para nós, Saboreando Espíritos, é um espaço para dividir as origens e curiosidades de diversas bebidas, destiladas ou não, que marcaram a História.




Absinto: A Magia Esmeralda

Cenário: a Paris do final do século XIX até a Primeira Grande Guerra. Luzes, poesia, o Moulin-Rouge e uma importante personagem: a Fada Verde.
Nome romântico para uma bebida que se tornou lenda, banida dos locais onde antes era adorada e se tornou ícone de uma época, o absinto se tornou famoso na Paris da Belle-Époque por ter fãs conhecidos como Tolouse-Lautrec, Van Gogh, Picasso, Ernest Hemingway, Baudelaire e Edgar Allan Poe.
A feérica erva absinto ou Artemísia absinthium, é originária da Ásia e da Europa e seu nome vem da deusa grega da caça, Ártemis. Alcança de 01 a 1,20 m. de altura, com folhas recortadas de cor verde cinzenta e flores amarelas em pequenos cachos. Nossas avós a conheciam como losna e sempre apareciam com aquele verde, fumegante e amargo chá para a dor de estômago de nossos familiares. Como sempre a sabedoria popular tem sua razão de ser: egípcios e gregos conheciam suas qualidades medicinais no trato digestivo, estomacal e como estimulante do apetite.

No mais antigo dos tratados médicos conhecidos, entre 1500 e 1700 A.C, o papiro Ebbers possuía um elixir a base de artemísia indicado para várias doenças incluindo asma e cólicas menstruais. Em 1792 o médico Pierre Ordinaire, enquanto residia na Suíça, uniu a artemísia em um composto de ervas de efeito vermífugo e estimulante e mais tarde adicionou o álcool para potencializar seus efeitos. Mais um caso de "santo remédio" quando, em 1797, Henry Louis Pernod o produziu comercialmente pela primeira vez.
Dizia-se que o absinto estimulava a criatividade, expandia as idéias e também era um afrodisíaco. O verdadeiro pó de pirlimpimpim desta fada é uma substância chamada tuiona (conhecida também como tuinona, thujone ou tujona) responsável pelas características medicinais da artemísia e pelos lendários efeitos do absinto. Esse componente químico se une a determinados receptores do cérebro, bloqueando-os em sua função normal, e mantendo-o em um estado de permanente excitação, podendo causar diversos efeitos colaterais como convulsões, espasmos e alucinações.

Porém tais efeitos nocivos só ocorrem com ingestão de altos níveis de tuiona, como no caso de absintos do século XIX com concentração de até 260mg/l. Atualmente esse nível atinge o máximo de 10mg/l, sendo regulamentada pela legislação de diversos países depois de quase um século de proibição. A tuiona é uma substância mais comum do que se pensa, sendo encontrada também na sálvia e no estragão, especiarias conhecidas, e na tuia, uma espécie de arbusto. Não há registros que comprovem a intoxicação por tuiona a partir do consumo de absinto, embora situações de loucura e violência tenham sido atribuídas à bebida ocasionando sua proibição ao final da Primeira Guerra. O consumo do óleo essencial de artemísia e extratos de tuiona são totalmente desaconselháveis devido a sua alta toxicidade.

O absinto é um destilado produzido a partir de nove ervas básicas - a Artemísia absinthium e a Artemísia pontica, anis, funcho, hissopo, coentro, anis-estrelado, angélica e melissa - e outras ervas aromáticas e tem gradação mínima de 50º para ser considerado absinto. Possui cor verde-esmeralda natural devido à clorofila da Artemísia pontica, gosto amargo e aroma anisado. Quando envelhecido, adquire uma cor castanho-clara. Ao se misturar o absinto com água ou gelo ocorre o louche-effect, uma típica turvação da bebida devido aos óleos essenciais e a clorofila presentes.

Bebida de charme e etiqueta únicos, usufruir da mágica da Fada Verde, requer conhecimentos básicos e alguns poucos acessórios.

Dê preferência às taças com pequeno bojo no fundo para se ter a medida da dose de absinto servida e utilize as colheres planas especiais, com apoio e perfuradas, para se colocar o açúcar e misturar a bebida. Na próxima matéria você encontrará os métodos para servir o absinto e receitas de drinks especiais.

Para se adequar a legislação brasileira, o absinto comercializado em nosso país tem gradação máxima de 54º, este vindo principalmente de Portugal, um dos produtores internacionais da bebida ao lado também da República Tcheca, famosa por seus destilados de alta gradação e com um ritual para servir característico, e da Espanha.
Mítico e charmoso, o absinto sobreviveu à proibição, perseguições e acusações ferinas e retorna ao nosso convívio como uma bebida para aqueles que procuram um sabor de romance antigo, de uma época de festas, alegria e intensidade.


Para saber mais:

Fontes: http://www.wikipedia.org/; http://www.absinthesupply.com/; "Tuiona - A Reabilitação Toxicológica" e "Absinto - O encanto das Fadas Verdes", trabalhos de mestrado sob orientação do Prof. Doutor Fernando Remião do Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto; http://www.jardimdeflores.com.br/; Revista Isto É; http://www.portaldoscoqueteis.com.br/
Imagens: Wikipédia


Paulo Renault